Destaques
Nordeste e Sudeste
Encontramos um total de 38 eventos, entre regulares ou não, considerando festivais, seminários e mostras especiais, nas cinco regiões do país. Percebe-se uma presença maior na Região Nordeste e na Região Sudeste, concentrando, juntas, 70% dos eventos.
Cineclubes
Encontramos, até o momento, 12 cineclubes que tem como foco de exibições a produção audiovisual de autoria negra.
Pioneirismo
Os festivais mais antigos são o Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul, realizado desde 2007 no Rio de Janeiro, e a EGBE Mostra de Cinema Negro, realizada desde 2016, em Aracajú.
Outras ações
Destacamos ainda o Fórum Itinerante de Cinema Negro FICINE, um espaço de formação e reflexão sobre a produção mundial de cinema, fotografia e audiovisual que tem pessoas negras como realizadoras e as culturas e as experiências negras como tema principal.
Apostando nas plataformas digitais como espaços importantes na difusão do audiovisual negro, surgem streaming como a Todesplay, Ubuplay e Cultne.tv, além da não mais ativa Afrolix.
Sobre
O Mapa do Cinema Negro, projeto de pesquisa iniciado em 2018, se constitui como uma plataforma de pesquisa e difusão audiovisual, voltada para conectar propostas que centram suas atuações na difusão da produção audiovisual de autoria negra no nosso país. É um espaço aberto para amplificar ações e possibilitar redes de contatos e construir outros circuitos de cinema no Brasil.
O objetivo do mapa é apontar os locais de mostras, festivais, cineclubes e projetos culturais voltados para a difusão dos cinemas negros no Brasil, de forma a potenciar as ações e criar uma rede integrada, permitindo mecanismos de parcerias entre produtores culturais, agentes independentes, instituições, sejam elas públicas ou privadas, projetos e público.
A pesquisa que originou essa plataforma surgiu no início de 2018 com o desejo de buscar iniciativas que lutam por espaços de visibilidade dos filmes brasileiros, e por consequência, de suas autorias, comunidades, territórios e narrativas. Inicialmente, partiu-se de uma questão: se os filmes realizados por pessoas negras não chegam ao público geral, seja através dos circuitos tradicionais de mostras e festivais de cinema, ou pela televisão e pelas plataformas de streaming, então, como esses filmes chegam e por onde? Em resumo, era preciso responder a pergunta:
Quais são as janelas de exibição do cinema negro no Brasil?
Nos últimos anos, sobretudo na última década, temos vivenciado um período chave, algo que muitos tem chamado (equivocadamente) de ‘explosão do cinema negro’. Uma fase particularmente importante na história do cinema brasileiro que diz respeito a toda a cadeia audiovisual, desde a produção, a distribuição, até a difusão, passando ainda pela crítica, curadoria, formação e profissionalização, período esse que deverá ser devidamente documentado e registrado para além da historiografia oficial.
Em termos de visibilidade, alcance e acesso, pudemos ver produções de autoria negra circulando nos eventos, conquistando premiações dentro e fora do Brasil, vemos pessoas negras e seus filmes em posições de destaque e uma maior inserção de profissionais negres em todas as linhas da cadeia audiovisual brasileira. Vimos surgir uma associação de classe, publicações e pesquisas, a implementação de políticas de cotas em editais nacionais e regionais, uma proliferação de debates, seminários, fóruns e diversos eventos que põem a pauta racial no centro das discussões.
Apesar de que esses movimentos citados, e os não citados, ainda chegam de forma bastante limitada às fronteiras que a colonialidade e o racismo brasileiro nos impõe a cada dia. Operando nas contradições e nos paradoxos da vida negra no cinema, o que acontece hoje quando falamos de cinema negro é uma transformação do próprio cinema brasileiro. Ou seja, discutir cinema negro é discutir o cinema brasileiro.
É preciso reconhecer que os cinemas negros – conjugado no plural – não podem serem vistos a partir da alegoria da tal “explosão”, como algo que surge de um nada, que repentinamente ascende, tem seu ápice e depois seu declínio, apagando-se nas próprias cinzas de uma memória silenciada. O que hoje profissionais do campo da educação, crítica, curadoria, realização, criação, distribuição, difusão, enfim, todas as camadas do audiovisual negro brasileiro têm feito é a continuidade de um longo e complexo trabalho coletivo de uma luta de décadas, não só pela valorização e visibilidade da produção audiovisual de autoria negra, mas sim, uma batalha pela concretização de políticas públicas que levem em conta aspectos raciais interseccionados com os de gênero, território e sexualidade.
Nesse contexto, os festivais de cinemas negros surgem no Brasil justamente como uma resposta ativa ao fato de a produção audiovisual negra ter historicamente uma presença ínfima e apagada, quando não, inexistente, nos circuitos tradicionais de festivais de cinema. Esse movimento é, de certa forma, uma ação-resposta política contra as estruturas de invisibilidade e de ausência, contra os sistemas de poder que constantemente colocam a arte negra em posições inferiores, escondidas e submersas. Aliado a isso, o movimento cineclubista tem um papel histórico fundamental na existência desses festivais, tanto por vários deles surgirem devido a atuação de cineclubes e cineclubistas negres, como também, pelo fato de que por muito tempo a circulação dos filmes de autoria negra se restringiam justamente aos cineclubes espalhados por todo o país, pelas periferias, escolas de arte, instituições culturais, coletivos e ações independentes.
A plataforma, iniciada em 2018, é idealizada e coordenada pelo pesquisador, curador independente e gestor Clébson Francisco, e é promovida pela BREU CC, produtora sediada no Ceará.
